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Mudanças regulatórias à vista
Há uma semana compartilhamos que a CVM em breve colocaria para consulta pública novas regras e limites para uma evolução da Resolução 88 - que regula o mercado de crowdfunding e tokenização.
Voilá! Dito e feito, a autarquia publicou ontem, no dia 24/09, o Edital de Consulta, convidando os participantes do mercado a contribuírem com a nova norma - que por enquanto chamaremos de Resolução 88+.
Tem exclusão de limite de faturamento para as emissoras, entrada oficial de securitizadoras, avanços em liquidez, distribuição e +. E como prometido, nós traremos a análise aqui para vocês. Vamos lá?
Histórico Regulatório


O novo mercado de capitais nasceu em 2014 quando fundamos o Broota (que em 2018 virou Kria) e lançamos a primeira Oferta Pública para uma PME através de “uma plataforma na internet”. A própria linguagem de nossas primeiras ofertas entrega nossa idade de mercado, rs.
No aspecto regulatório, porém foi a Instrução CVM 588, publicada em 2017, que “fundou” o mercado de Plataformas de Investimento, trazendo clareza dos limites e maior segurança regulatória.
Pela CVM 588, empresas com faturamento de até R$10 milhões podiam captar R$5 milhões por ano pelas Plataformas. Os investidores tinham um limite de investimento de R$10 mil por ano, e as Plataformas assumiram um importante papel de intermediário.
Rapidamente os limites da 588 se mostraram pequenos diante dos avanços do mercado, e em 2022 a Instrução foi substituída pela Resolução 88: limite de faturamento das empresas subiu de R$10 milhões para R$40 milhões (ou R$80 milhões, em grupos econômicos), teto de captação cresceu para R$15 milhões por oferta, e a CVM abriu as portas da liquidez, permitindo às Plataformas estruturarem mercados secundários para negociação de ativos, exclusivos porém aos investidores ativos de cada plataforma.
As Orientações que enquadraram tokenização e securitização de ativos dentro da Resolução 88 (que exploramos em mais detalhes na última newsletter) deram um novo gás ao mercado, e trouxeram a urgência de uma nova atualização regulatória.
É aqui que estamos hoje.
A Resolução 88+

A CVM abriu audiência pública para sua proposta de uma nova Resolução, que substituirá a Resolução 88, ampliando ainda mais os limites do mercado. O texto introdutório é para nós, que acompanhamos cada pequena evolução desse mercado, motivo de grande nostalgia e emoção:
“Originalmente concebida para atender sociedades empresárias de pequeno porte, a norma (Resolução 88) busca ampliar as alternativas de financiamento para empresas em estágios iniciais ou em expansão, ao mesmo tempo em que fomenta a participação do investidor de varejo no mercado de capitais. Desde sua edição, tem se mostrado eficaz na criação de um ambiente regulatório proporcional aos riscos, contribuindo para a inovação, a diversificação de oportunidades de investimento e de financiamento, e o fortalecimento do ecossistema de crowdfunding de investimento.”
- Edital de Consulta Pública SDM 05/2025.
Por hoje, nós apenas compartilharemos, sem juízos de valores, o que a CVM propôs de mudanças normativas. Nas próximas semanas traremos nossa opinião sobre as mudanças propostas, e mudanças que não estão lá - mas que lutaremos para que estejam.
Principais novidades

Novas emissoras e limites
As emissoras eram qualificadas pela Resolução 88 como sociedades empresárias de pequeno porte, com limite de faturamento anual em R$40 milhões. Pela 88 plus, a CVM amplia a gama de emissoras:
- Retirando a limitação de faturamento das sociedades empresárias, o que abre o mercado para milhões de negócios, mais robustos e consolidados, com necessidade de acesso a capital.
- Introduzindo securitizadoras como emissoras, com regimes informacionais customizados a suas características
- Fortalecendo o agro, ao trazer como emissoras também as cooperativas agropecuárias e produtores rurais
Os limites de captação (R$15 milhões por sociedade) e possibilidade de distribuição parcial com meta mínima e lote adicional mudarão - de acordo com a emissora:

Maior potencial de distribuição
Historicamente, um dos principais desafios do mercado está na frente de distribuição, com regras que limitavam a capacidade das Plataformas de se integrarem ao mercado financeiro tradicional. Isso deve mudar - ainda bem!
A CVM propôs uma nova forma de distribuição em que as Plataformas poderão distribuir seus valores mobiliários diretamente na infraestrutura dos intermediários - como corretoras, bancos e casas de AAIs, garantindo que esse intermediário poderá cuidar da experiência de seus investidores dentro de casa.
Mais um passo pela liquidez
A autorização das Plataformas de mediarem operações secundárias entre investidores, trazendo mais liquidez para os valores mobiliários, tinha um desafio de volume: as negociações estavam restritas a investidores ativos na Plataforma (e entendia-se por ativos, investidores que realizaram aportes nos últimos 2 anos).
A nova proposta da CVM tira a limitação para investidores ativos, permitindo que qualquer um se cadastre na Plataforma de negociações. Um próximo e importante passo, ainda não contemplado na minuta da Resolução 88+, seria permitir que os ambientes das plataformas se integrem, com interoperabilidade para garantir um maior volume de operações.
Diversificação à la fundos
O arcabouço do crowdfunding foi pensado para que os investidores possam alocar o capital diretamente em cada oferta, sem gestão discricionária por terceiros. Para alguns investidores, porém, poder mandatar à um gestor ou fundo mais experiente o capital, para que ele aloque em múltiplos ativos, traria uma maior diversificação e proteção à carteira.
Entendendo esse benefício, a CVM propôs que gestores autorizados pela própria autarquia poderão captar recursos para suas teses de investimento, e alocá-los pelos próximos 18 meses em emissoras por eles selecionadas.
A audiência pública está aberta para manifestações até o dia 23/12/2025, e a expectativa é que a nova norma entre em vigor em 2026. O Kria participará ativamente da audiência pública, entusiasmados pela oportunidade de vermos nascer uma Resolução 88+++ que redesenhará o mercado de capitais.
Que entusiasmante :)

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O primeiro bilhão das Plataformas
Quem acompanha o Kria já faz um tempo sabe que estamos há anos (mais precisamente, há 11 anos) empreendendo pela democratização do acesso ao capital, dos dois lados - dos investidores e dos empreendedores.
Falamos por aqui sobre o tal novo mercado de capitais sempre com uma visão de futuro. Mas e quando o futuro chega? Não se preocupe, não estou aqui para filosofar sobre o tempo, mas para compartilhar que o mercado de capitais está em uma acelerada evolução desde 2024.
Então, prepare o cafezinho e acompanhe a Newsletter de hoje, que traz um panorama sobre essa nova fase do mercado de capitais no Brasil.
O primeiro bilhão das Plataformas

Até 2023, as Plataformas de Investimento Coletivo transacionavam, na sua totalidade, menos de R$300 milhões por ano, uma participação de 0,05% no volume total das operações no mercado de capitais, de acordo com o Boletim Econômico da CVM. Mas em 2024, esse número saltou para R$1.3 bilhões em emissões via Plataformas. E para 2025? Até o final do 1o semestre, já foram R$2.2 bilhões - e a participação no volume das operações, subiu para 0,5%.

O motor dessa virada? A Renda Fixa Digital.
Em 2023, a CVM publicou orientações para tokenizadoras e securitizadoras, estendendo a aplicação da Resolução 88, antes restrita ao crowdfunding, para esse novo universo de ativos.
Com isso, a Resolução 88 se consolidou como o principal arcabouço regulatório do novo mercado de capitais. Distribuições de ativos securitizados, como CRIs, CRAs e outros certificados de recebíveis, passaram a ser mais simples e economicamente viáveis mesmo em operações menores.
Além da simplificação, essa mudança destravou um mercado com potencial multibilionário.
Estima-se que a necessidade anual de crédito das PMEs supere R$700 bilhões. O gap de financiamento ainda pode ser muito maior se considerarmos o estoque de crédito privado. Hoje menos de 0.5% desse crédito está disponível através das Plataformas de Investimento Coletivo - mas a tendência, como já vimos, é de aumento exponencial.
O que vem pela frente

Para que esse mercado se consolide como o principal canal de acesso a esses ativos, algumas adaptações regulatórias ainda são necessárias — e a CVM já está se movimentando.
Nas próximas semanas, a autarquia deve colocar em consulta pública novas regras para a Resolução 88. As mudanças devem ser significativas: aumento de limites, entrada de novos participantes... Há até a possibilidade de a Resolução 88 ser substituída por uma nova norma.
Aqui no Kria, acompanhamos de perto — e com entusiasmo — os avanços regulatórios e de mercado. Recentemente, lançamos em nossa Plataforma novas operações de Renda Fixa Digital, com rendimentos acima de 20% a.a. e prazos entre 12 e 18 meses.
📰 Lançamos também uma nova Comunidade de Avisos através do WhatsApp, por onde compartilharemos notícias sobre o mercado e novos lançamentos.
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A favorita da LatAm
Querida comunidade Kria,
As fintechs são as queridinhas da América Latina há uma década, unindo um mercado com crescimento e inovador a regulamentações que permitem diversas novidades borbulharem no mercado.
Na news de hoje, vamos dar uma olhada nos números apresentados pelo report da Distrito. Café na mão?

O segmento de fintechs foi, na América Latina, a menina dos olhos dos investidores. Em um mercado em pleno crescimento e gerando diversas inovações – como os bancos digitais, o open banking ou os novos meios de pagamento –, o Venture Capital encontrou um ambiente propício para deixar seus aportes. A pergunta que fica é: com o crescimento do hype da AI, as fintechs precisam dividir seu protagonismo?
Para um pouco de background, o segmento se consagrou como o setor com mais injeção de capital na última década, acumulando um total de US$15 bilhões investidos apenas na América Latina. Nessa conta, o Brasil saiu na frente, sendo responsável por US$10 Bi – cerca de 70% do montante total.

Podemos ver um crescimento substancial em 2018, que também se marca como a época onde o Nubank atingiu o marco de unicórnio, e um pico em 2021. Logo em seguida, existiu um momento de retração do mercado, quando o momento de autocrítica e reflexão do VC tomou conta do cenário, e esse movimento se manteve nos anos seguintes. Entretanto, nos seis primeiros meses desse ano, aportes equivalentes a 80% do volume de todo o ano anterior, gerando um clima esperançoso.

É claro que, no cenário atual, esse favoritismo passou para a área de inteligência artificial. E, com isso, surge também a pergunta: afinal, a atenção dividida afeta as fintechs?
E a resposta simples é: não, muito porque elas também estão surfando na onda da AI ao incorporar o novo modelo em suas tecnologias ao invés de lutar contra ele. Esse movimento de IA-ficação não se restringe às fintechs e tomou conta de toda a malha inovadora do Brasil, fazendo com que, até o momento, sejamos o maior investidor da incorporação da inteligência artificial nas empresas da América Latina.

Na última semana, a Wiz, uma startup de cybersegurança, recusou uma proposta de compra feita pela Alphabet (uma empresa Google) sob um valuation de $12Bi, com a compra sendo feita por $23Bi. O que seria um cenário de M&A perfeito para muitos foi adereçado em uma carta feita pelo fundador, Assaf Rappaport, e enviada para os trabalhadores da empresa, onde afirma que, por mais difícil que seja sua decisão, ela foi tomada pela diretoria ver um caminho promissor para a empresa.
O movimento trouxe uma reflexão interessante sobre o que é, afinal, o cenário ideal para se despedir de sua empresa. Isso porque o caminho do empreendedorismo não é único; pelo contrário, é mais como uma combinação de várias encruzilhadas, onde você tem um mapa não exato.
Nem toda empresa vai virar um unicórnio, ou ser comprada por uma tech maior. E é nessa diversidade que o mercado floresce melhor, celebrando diferentes formas de se criar empresas que mudam o futuro.
Que possamos celebrar também a diversidade das empresas.

- O primeiro unicórnio das femtechs surgiu! Se trata da Flo, um app para monitoramento do ciclo menstrual e ovulação. Já em série C, levantou US$2 milhões com o fundo novaiorquino General Atlantic. Parabéns, Flo!
Obrigada por ter me acompanhado até o fim de mais uma news! Nos encontramos por aqui toda quinta-feira, 17h! Dúvidas, opiniões, feedbacks? Basta me enviar um e-mail! :)
E não esquece também de encaminhar esse e-mail para seus sócios, colegas de trabalho e amigos. (Se você recebeu o email pela primeira vez agora, faça o cadastro no nosso site para receber as próximas edições.)
Au revoir,
Le, do Kria
Comunicação e comunidade

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Dez anos de Kria
Em 2024 completamos 10 anos de Kria - e consequentemente, do novo mercado de capitais para PMEs.
Muito se fala sobre as vantagens do pioneirismo. Menos mencionados são os desafios enfrentados pelo primeiro - aquele que antes de se provar visionário, está na categoria dos loucos. A última (ou melhor, a primeira!) década do Kria foi uma mistura de loucura, paciência e, principalmente, propósito: de democratizar o mercado de capitais.
Surgimos antes da regulação, e começamos antes do mercado estar pronto. Acompanhamos de perto a CVM no desenvolvimento do seu primeiro arcabouço regulatório para as Ofertas Públicas, e desde então nas subsequentes evoluções normativas. Enfrentamos mitos e preconceitos no mercado de Venture Capital, tendo que nos provar constantemente, através de casos de sucesso com os poucos empreendedores corajosos o bastante para desafiarem o status quo.
Erramos, experimentamos, acertamos e, por termos chegado muito antes do amadurecimento de nosso mercado, aguardamos. Agora, o mercado que começamos a desbravar em 2014 enfim conquistou sua relevância, com o investimento em negócios privados se popularizando e integrando cada vez mais ao mercado financeiro tradicional. Do lado regulatório, os sinais da CVM são de que o nosso ambiente será protagonista do novo mercado de capitais - tokenização, sandbox para secundárias, novas regras de fundos e marco para securitização são alguns dos destaques.
E nesse cenário, nos vemos em uma posição de vantagem: nos últimos anos construímos a principal infraestrutura do mercado, acumulando recordes em volume captado, número de exits, co-investimentos com fundos top tier e até a recente parceria com a B3. Nossa expertise atraiu potenciais concorrentes, que optaram por fazer parte de nossa comunidade de Plataformas que utilizam nossa tecnologia, onde já alcançamos 15% de marketshare.
O momento agora é de consolidarmos o Kria como o ecossistema de investimentos em empresas privadas, para além do crowdfunding: desenvolvemos a tecnologia necessária para que as centenas de agentes do mercado de investimentos privado possam otimizar seus portfólios, diminuindo a fricção e aumentando o acesso e liquidez. Nos EUA, esse cenário já é realidade: mais de 36% dos principais deals de Venture Capital e Private Equity foram estruturados via plataforma (Angelist). No Brasil, pode ser também.
Nos últimos 10 anos contamos com uma comunidade de mais de 60.000 entusiastas.
Os empreendedores - os verdadeiros corajosos, que se abriram a um novo formato de captar recursos com suas comunidades.
Os investidores, que diversificaram suas carteiras de ativos com inovação e impacto social.
A cada um que participou e participa do Kria, nosso imenso agradecimento. Que possamos conquistar ainda mais nos próximos 10, 100 anos.
Juntos por um novo mercado de capitais!

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Da rede às gôndolas: a trajetória da OHCA
No portfólio Kria desde 2021, a OHCA é uma holding que se propõe a fornecer bebidas brasileiras de qualidade e com personalidade jovem. Com um portfólio cheio (e aumentando cada vez mais), seus carros-chefe são a cachaça de jambu, com a marca Jós, e o vinho, pela Vinho22, inspirada na Semana da Arte Moderna de 1922.
Em uma conversa com o Marcelo de Paula, CEO e Co-Founder, buscamos entender mais sobre a história da empresa e seus passos futuros. Vem com a gente!
Onde surgiu a ideia da OHCA?
Nossa história começou formalmente em 2019, mas é embrionária desde 2015. Sempre tivemos vontade de empreender e tínhamos experiência no setor de bebidas e consumo. Quando conhecemos a cachaça de jambu, no Pará, vimos que era algo super regionalizado e pouco difundido em outras regiões do país. Passamos um tempo pilotando, construindo nossa primeira marca (Jós) e validando nosso produto e modelo. Só então estruturamos o Plano de Negócios do que viria a ser a OHCA Bebidas. Aí foi tomar coragem e entrar de cabeça nesse mundo.
A OHCA é focada em criar uma marca forte e que converse com seus consumidores. Por quê? Qual foi a visão de marca de vocês que os fizeram criar a Jós e a 22?
Ao analisar o mercado de bebidas no Brasil, enxergávamos muito espaço para o nascimento de novas marcas “independentes”. A indústria até então era dominada (ainda é) pelas grandes multinacionais trazendo dois grandes problemas: (i) a doutrinação das tendências de consumo — onde o consumidor, sem perceber, possui cada vez menos pensamento crítico pra escolher o que bebe, pois, a indústria domina a distribuição massiva. É assim que aparecem os “drinks do momento”; (ii) a desconexão total da marca com o consumidor. Acreditamos que cada vez mais, no mundo moderno, as marcas precisam estar próximas do consumidor, proporcionando mais diálogo, participação cultural e ser menos superficial. É o que dizemos por aqui, a OHCA não é uma empresa de vendas, é uma empresa de marca.
Em 2021 vocês fizeram uma rodada com a gente, que arrecadou R$1,1 milhão de 202 investidores. O que levou vocês a optarem pelo equity crowdfunding?
Por sermos uma empresa que tem no DNA, a construção e força da marca, optamos por ter mais “embaixadores” e “donos” da marca espalhados pelo Brasil do que só um investidor que aportou um capital. Acreditamos muito na construção de comunidade e os benefícios que isso traz pro nosso modelo de negócio. Quanto mais pessoas participando dessa comunidade melhor. O consumo moderno passa muito pelo pertencimento, diálogo e efeito de rede.
E quais foram os principais aprendizados que surgiram de dentro da sua comunidade investidora?
É importante estar sempre gerando movimento. Trazendo novidades, conteúdo informação, benefícios exclusivos e, principalmente, transparência. É com movimento e diálogo que você consegue engajar uma comunidade. Às vezes a gente é consumido pela nossa operação e acaba deixando isso em segundo plano, mas trabalhamos pra ser uma das nossas prioridades.
Quais foram as principais mudanças desde então?
Incrementamos algumas ações que visam incluir essas ações no nosso processo operacional. Alocação de pessoas e recursos para esse atendimento mais personalizado, desenho de campanha e acesso exclusivo a lançamentos foram algumas ações que colocamos em prática. Além, é claro, da governança em relação a transparência de resultados operacionais junto com o time do Kria.
Agora, a OHCA está se empenhando em passar a ir para os mercados físicos e alcançar mais público. Qual foi o momento que virou a chave na decisão de entrar no omnichannel e deixar de ser uma DNVB?
Na verdade, a OHCA hoje tem 2 marcas no portfólio (ainda). Isso faz com que cada uma tenha uma estratégia diferente de atuação. A Jós sempre foi uma marca de presença no On Trade (bares, casas noturnas e restaurantes), muito focada em coquetelaria. Já o vinho 22 é o que chamamos de uma marca nativa digital. Isso acontece, pois cada categoria apresenta uma aderência a um tipo de canal e analisamos muito isso. Nesse segundo caso, o fato do 22 nascer como uma DNVB, estamos encarando como um ajuste de modelo. Nosso foco continua sendo a operação online, mas além do nosso e-commerce, encontramos parceiros que complementam nossa operação em capilaridade. Além disso, buscamos escutar sempre nossa comunidade e, nos últimos meses, enxergamos a necessidade de estar mais presentes na distribuição do varejo físico. Estudamos quais são os melhores players pra isso e estamos em negociação. A ideia é alinhar o modelo digital na construção de marca com mundo o físico na oferta.
Outro plano é a transformação da OHCA em uma holding, com a anexação de novas marcas. Como isso afetaria as operações atuais?
A OHCA como holding de bebidas sempre foi um plano desde o nosso primeiro Plano de Negócios. Entretanto, sabemos que construir marca é algo moroso e que demanda tempo, por isso focamos os últimos 2 anos em trabalhar as nossas marcas. Agora o mercado tem se mostrado muito aquecido, alguns conglomerados de marca apareceram para ajudar a balançar o nosso mercado. Isso tem tido um impacto muito positivo e faz todo sentido quando você pensa em sinergia, tanto em custos como comercialmente falando. Essa é a ideia que temos para a OHCA, firmar parcerias com novas marcas e, se fizer sentido, lançar outras. Tudo vai depender da oportunidade que aparecer e o mercado que se apresenta. Mas o foco total de tudo é sinergia de operação e potencialização de receita.
Quer nos contar um pouco sobre os próximos passos da OHCA?
Este foi um ano muito importante para nós em termos de construção de marca, mais do que o crescimento de receita. Estamos bem posicionados no mercado e com uma estratégia pronta de expansão. Neste final de ano lançaremos uma nova rodada de investimentos, desta vez com um volume um pouco menor, priorizando o crescimento do grupo. A ideia é expandir canal de vendas e fixar parceria com outras marcas que tenham sinergia com nosso portfólio. Isso é algo que já está no radar e que estamos animados. Temos 3 pilares que pautarão esse nosso próximo ciclo: Expansão, Consolidação e Rentabilidade.
Por fim, nos recomende um livro!
Eu sou um leitor bem assíduo, mas confesso que não tenho gosto algum pelos livros de negócios. Até li algumas recomendações e, de fato, tem histórias e modelos interessantes, mas acredito que o empreendedor tem que tomar cuidado pra não ficar refém desse universo. Meu negócio é literatura, leio muito romance. Se é pra indicar algum, dos mais recentes, fico com o Torto Arado, do Itamar Vieira Júnior. Pra quem ainda não leu, é o melhor que já li dos últimos anos. Além da maestria do livro, importante pra gente ter um olhar muito sensível e crítico da construção do nosso país. Isso é fundamental pra entender quem somos, de onde viemos e o entendimento de algumas raízes dos nossos desarranjos sociais. Tudo isso costurado com uma história brilhante.

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Captações com menos confetes
Passaram-se dez anos desde que Ben Horowitz, co-fundador de um dos mais prestigiados fundos de Venture Capital — o a16z — , publicou o artigo “The case for the Fat startup”, desafiando a ideia, padrão na época, de que as startups deveriam captar pouco investimento e preservar o capital. Ben argumentou, usando a sua própria história como exemplo, de que em alguns cenários as empresas podem (e devem) captar e queimar bastante dinheiro para vencer no mercado.
Se há dez anos o cenário das “Fat Startups” era contraindicado, e o Ben precisou apresentar um caso (muito bom, por sinal) para justificar essa estratégia, hoje o contexto é outro. O volume médio das rodadas de investimento cresceu substancialmente. Segundo levantamento da firma de VC Wing, o valor médio de uma rodada Seed cresceu 4.3x de 2010 para 2018. O montante que em 2010 era a média captada em Séries A (U$5 Mm), hoje representa uma rodada Seed.

E não tem problema algum em ser uma Startup Gorda. Mas quando essas rodadas milionárias (ou bilionárias) são destacadas nas mídias e louvadas em nossos grupos de WhatsApp, ou quando apostamos sobre quem será o próximo unicórnio, parece que o capital se transformou no fim em si — e não no meio.
Gostaria, então, de retomar o argumento central de Ben Horowitz no “The case for the Fat startup”:
“Toda startup está em uma furiosa corrida contra o tempo. A startup precisa encontrar o product market fit que a direciona ao negócio certo e substancialmente dominar o mercado antes de ficar sem dinheiro. Como resultado, as duas grandes prioridades são:
1. Encontrar o produto que 1.000 empresas ou 50 milhões de consumidores querem comprar, e conquistar esses consumidores antes que seu competidor o faça.
2. Captar dinheiro o suficiente e gastá-lo de maneira inteligente de modo que você não vai falir no meio do caminho.
Gastar muito ou gastar pouco é o meio, não o fim. Escolha a estratégia certa para conquistar o mercado, ou você pode acabar indo diretamente para o purgatório (de startups!).”
Vivemos um momento de abundância de capital no mercado. Parafraseando o Sam Altman, da YCombinator, hoje é mais fácil receber investimentos do que investir. Isso não significa, porém, que você PRECISA captar grandes investimentos (ou captar qualquer investimento).
O quanto você capta depende de sua necessidade de capital para executar o seu plano e conseguir sobreviver. E o seu plano dependerá de seu contexto — do momento de sua startup, de seu mercado e de seus concorrentes.
Então, quando se deparar com a dúvida sobre quanto captar, considere:
1. Quanto você tem no caixa?
2. Quanto você gasta/planeja gastar por mês? Planeje-se para gastos e cenários inesperados.
3. Quais são os seus próximos cenários de capital (novas rodadas, saída ou se tornar lucrativo o suficiente para não necessitar de capital externo)?
4. O quanto você precisa para, dado o seu planejamento do negócio, chegar na próxima etapa de captação ou saída(considere um cenário de pelo menos 12–18 meses)?
Por fim, quando se trata de captação em troca de participação societária, o investimento é um “produto” que você, empreendedor, está comprando — em troca de um de seus mais valiosos bens. O quanto vale o seu negócio (ou o quanto você está disposto a vender dele) impacta no seu planejamento de captação e estratégia para rodadas de funding. Mas o equity também não é a única forma de financiar o seu negócio — Venture Debt, por exemplo, tem se destacado cada vez mais no mercado.
É importante levar em consideração “o quanto você está disposto a pagar” pelo investimento, no momento de traçar a sua estratégia de captações. As diferentes modalidades de investimento, como se calcular o valuation e como preservar o seu cap table são temas para próximos conteúdos. Ainda que influenciem na sua estratégia de captação, o seu primeiro passo, quando se deparar com a questão de “o quanto devo captar”, é considerar qual a sua verdadeira necessidade de capital.
No final do dia, não existe uma estratégia certa ou errada — seja uma startup magra ou uma startup bem gorda, o que realmente importa é para onde o capital vai te levar, e não o que você é hoje por causa desse capital.
Referências, inspirações e pessoas que pensam diferente:
Sobre estratégia de Startup Gorda:
The Case for the Fat Startup: https://a16z.com/2010/03/17/the-case-for-the-fat-startup/
Livro: Blitzscaling, do Reid Hoffman, fundador do LinkedIn
Sobre estratégia de Startup Magra:
Material da Sequoia: https://www.slideshare.net/eldon/sequoia-capital-on-startups-and-the-economic-downturn-presentation
Livro: The Lean Startup, do Eric Ries
Evolução das rodadas de investimentos:
Material da WING VC: https://wing.vc/content/seed-is-the-new-a-a-is-the-new-b


